A Igreja é mestra não só de verdade mas também de piedade, e, esta piedade, ela no-la ensina na prática, ou seja, na sua liturgia:
- pela liturgia, os primeiros cristãos aprendiam a amar-se uns aos outros como membros de um mesmo corpo místico, enquanto comungavam do mesmo Corpo eucarístico;
- pela liturgia, os neófitos vindos das trevas do paganismo aprendiam a rezar e a adorar o único verdadeiro Deus em espírito e em verdade;
- na liturgia, os bárbaros aprendiam o respeito mútuo, e os nobres aprendiam a adorar a Deus presente na alma de todos os fiéis, inclusive dos mais pobres;
Em suma, a liturgia da Igreja sempre foi uma grande escola de piedade, de oração, de religião, de todas as virtudes, e a vida dos Santos testemunha que os que se deixam guiar por ela são formados quase que instintivamente na mais sólida espiritualidade.
Mas a crise pela qual a Santa Igreja vem atravessando dificultou, para muitos fiéis, o acesso à verdadeira liturgia. Recusando-se a beber a água envenenada dos novos ritos modernistas, muitas famílias têm de pegar horas de estrada, para ir à Santa Missa; muitos fiéis têm de viajar por mais de 24 horas para poder receber a Confirmação, a escassez de casas religiosas e seminários perfeitamente ortodoxos, com uma liturgia pura e integralmente católica, tornou mais difícil, pelo menos para a maioria dos fiéis mais esclarecidos, a o contato com a verdadeira liturgia.
Como poderão, então, os fiéis, beber o verdadeiro espírito católico em sua fonte, que é a liturgia? Como os ainda principiantes na Fé, sejam eles adultos recém convertidos eou crianças recém-nascidas, aprenderão a rezar e a se relacionar com Deus, sem ter contato frequente com o culto público da Igreja? Ficarão eles à mercê dos métodos de oração, que, por úteis e frutuosos que sejam, não se comparam à vox sponsae, à voz oficial da Esposa de Cristo, que consiste em suas orações litúrgicas? Ou será que é possível adquirir uma verdadeira espiritualidade litúrgica tendo poucos e raros contatos diretos com a liturgia?
À todos esses fiéis, dos mais esclarecidos sobre a crise atual, que não têm o privilégio de habitar à sombra de um claustro ou de um seminário tradicional, e que se vêem privados dos Sacramentos e da liturgia católica por semanas, muitos por meses, se não por anos, – a todos esses valorosos guerreiros que, tendo recebido a graça de uma compreensão mais profunda da crise atual, recusam-se a colocar sua Fé e a dos seus em risco pelo contato com os novos ritos ou com clérigos liberais-conservadores, – a todos esses militantes da Tradição bimilenar da Igreja, venho propor-lhes alguns meios de suprir um pouco a essa falta de frequência no contato com a liturgia, em outras palavras, 7 degraus de piedade litúrgica, os quais eles podem exercitar-se em escalar, mesmo tendo poucos e raros acessos à liturgia.
Os 7 degraus da piedade litúrgica
O primeiro degrau de piedade litúrgica consiste em assistir com atenção exterior e interior às Missas e às cerimônias litúrgicas que tivermos a oportunidade de assistir, procurando tirar delas o maior fruto possível, enquanto delas participamos.
O segundo degrau da piedade litúrgica consiste em não apenas prestarmos atenção na liturgia, mas a ela preparar-nos, liberando um pouco antes a alma de toda outra preocupação e entregando-a, de antemão, inteiramente a Deus, a fim de que seja toda para o culto divino, no momento em que começar a cerimônia; igualmente, após cada cerimônia litúrgica, a alma chega a este degrau como que sente a necessidade ou o dever de agradecer a Deus, pois ela sabe que foi uma ocasião de muitas e de grandes graças para ela mesma e para toda a Igreja, independente de ela ter podido comungar ou não (se se tratar da Santa Missa).
O terceiro degrau da piedade litúrgica consiste em não apenas prestarmos atenção na liturgia presencialmente e a ela nos prepararmos um pouco antes, mas em lermos diariamente os textos litúrgicos, em neles meditarmos e em inserirmos seus temas nas próprias orações privadas, por exemplo, na visita ao Santíssimo, nos mistérios do Rosário, na Via Sacra, etc.
O quarto degrau da piedade litúrgica consiste em rezarmos as horas canônicas, ou algumas delas, não apenas na Igreja, quando podemos assistir aos ofícios divinos cantados pelos clérigos ou religiosos, mas mesmo em privado, no dia a dia da nossa vida de oração, quando não pudermos ir à Igreja.
O quinto degrau da piedade litúrgica consiste em esforçamo-nos, no dia a dia, por praticar e progredir nas virtudes particulares do tempo litúrgico em que estamos ou da festa litúrgica do dia, e em realizar todos os jejuns e abstinências, todas as penitências impostas ou simplesmente propostas pela Igreja para a ocasião.
O sexto degrau da piedade litúrgica consiste em, rezando os textos litúrgicos, tanto nas cerimônias como em privado, apropriarmo-nos das palavras da liturgia como se fossem nossas – e de fato o são. A alma chegada a este grau não sente necessidade de outras orações vocais para exprimir ao seu Bem-Amado o seu amor, a sua adoração, a sua gratidão, etc, e a única oração na que ela consegue expandir mais a sua alma que na litúrgica é a oração do silêncio amoroso e da simples adesão a Deus.
O sétimo degrau da piedade litúrgica consiste em estar a alma toda fundida na Esposa de Cristo, e se contentar em recitar ou cantar todas orações litúrgicas in persona Ecclesiae, se não também por ofício, ao menos pela intenção. Aqui, a vontade da alma e a de Nosso Senhor, na oração litúrgica já não são mais que uma coisa só, pois a voz que ela dirige a Seu Bem-Amado está toda dissolvida na voz da Esposa mística do Cordeiro imolado: et erunt duo in carne una. Mas não só durante a liturgia, pois ela compreendeu que a sua alma é um templo da Santíssima Trindade. In persona ecclesiae ela reza, ela canta, ela lê, ela medita, ela se exercita nas virtudes, ela sofre e ela se imola, completando em sua carne o que falta à Paixão de Cristo, pelo Seu corpo místico que é a Igreja.
⚜️LAUS DEO⚜️
Deixe um comentário